Atividade sobre Modernismo - Poema Eu, Etiqueta - Período composto por subordinação - Texto para discussão sobre consumismo

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Carlos Drummond de Andrade, fez parte da segunda geração do Modernismo. Foi um escritor bastante completo, pois escreveu em poesia e também em prosa, criando textos jornalísticos, contos e crônicas. Como sua obra é muito ampla, alguns estudiosos de literatura costumam separá-la em fases.

1a – Fase gauche (década de 1930): marcada pelo humor, ironia, coloquialismo e versos livres. Uma obra representativa dessa fase é Alguma poesia (1930).

2a – Fase social (1940 a 1945): representada pela crítica social e pelo engajamento político, como na obra Sentimento do mundo (1940), por exemplo.

3a – Fase do “não” (décadas de 1950 e 1960): conhecida pela exploração de questões metafísicas, filosóficas e existenciais. Lição de coisas (1962) é uma das obras representativas dessa fase.

4a – Fase da memória (décadas de 1970 e 1980): caracterizada pelo aprofundamento das memórias do autor. Há também o resgate do humor e da ironia, utilizados para comentar sobre os dilemas sociais e da existência humana. Obras como Boitempo (1968) e Corpo (1984) são representativas desse período.

Eu, Etiqueta

Em minha calça está grudado um nome
que não é meu de batismo ou de cartório,
um nome... estranho. [...]
Minhas meias falam de produto
que nunca experimentei
mas são comunicados a meus pés.
Meu tênis é proclama colorido
de alguma coisa não provada
por este provador de longa idade.
Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,
minha gravata e cinto e escova e pente,
meu copo, minha xícara,
minha toalha de banho e sabonete,
meu isso, meu aquilo,
desde a cabeça ao bico dos sapatos,
são mensagens,
letras falantes,
gritos visuais,
ordens de uso, abuso, reincidência,
costume, hábito, premência,
indispensabilidade,
e fazem de mim homem-anúncio itinerante,
escravo da matéria anunciada.
Estou, estou na moda.
É doce estar na moda, ainda que a moda
seja negar minha identidade,
trocá-la por mil, açambarcando
todas as marcas registradas,
todos os logotipos do mercado.
Com que inocência demito-me de ser
eu que antes era e me sabia
tão diverso de outros, tão mim-mesmo,
ser pensante, sentinte e solidário
com outros seres diversos e conscientes
de sua humana, invencível condição.
Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).
E nisto me comprazo, tiro glória
de minha anulação.
Não sou - vê lá - anúncio contratado.
Eu é que mimosamente pago
para anunciar, para vender
em bares festas praias pérgulas piscinas,
e bem à vista exibo esta etiqueta
global no corpo que desiste
de ser veste e sandália de uma essência
tão viva, independente,
que moda ou suborno algum a compromete.
Onde terei jogado fora
meu gosto e capacidade de escolher,
minhas idiossincrasias tão pessoais,
tão minhas que no rosto se espelhavam,
e cada gesto, cada olhar,
cada vinco da roupa
resumia uma estética?
Hoje sou costurado, sou tecido,
sou gravado de forma universal,
saio da estamparia, não de casa,
da vitrina me tiram, recolocam,
objeto pulsante mas objeto
que se oferece como signo de outros
objetos estáticos, tarifados.
Por me ostentar assim, tão orgulhoso
de ser não eu, mas artigo industrial,
peço que meu nome retifiquem.
Já não me convém o título de homem.
Meu nome novo é coisa.
Eu sou a coisa, coisamente.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Eu, etiqueta.
In: ANDRADE, Carlos Drummond de. Corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

premência: urgência, pressão.
comprazer-se: satisfazer-se, deleitar-se.
pérgula: pérgola ou pergolado, tipo de construção comum em jardins, constituída por vigas horizontais, apoiadas em colunas verticais, usada frequentemente como suporte para plantas trepadeiras.
idiossincrasia: comportamento particular de um indivíduo.
vinco: marca deixada por algo que foi dobrado.

1. Qual é a crítica social feita no poema? Você concorda com ela?

2. Por que o eu lírico se considera como um “homem-anúncio itinerante”? De que maneira isso está relacionado à sua mudança de nome?

3. Tomando por base os seus conhecimentos prévios sobre anúncios publicitários, o que são as “mensagens, letras faltantes, gritos visuais, ordens de uso, abuso” presentes nos objetos do eu lírico?

4. O eu lírico se considera “escravo da matéria anunciada”. E você? Sente-se escravo do consumo? Por quê?

5. Releia este trecho do poema “Eu, etiqueta”.

Agora sou anúncio,
ora vulgar ora bizarro,
em língua nacional ou em qualquer língua
(qualquer, principalmente).

a) Em sua opinião, o que é um anúncio vulgar e um anúncio bizarro?

b) Qual é a crítica implícita do eu lírico sobre o anúncio estar “em língua nacional ou em qualquer língua”? O que você pensa sobre isso? 

6.  A qual fase do Modernismo pertence “Eu, etiqueta” e por quê? O poema tem características de alguma outra fase da obra drummondiana? Justifique.

7. Leia novamente este trecho do poema “Eu, etiqueta”: “Em minha calça está grudado um nome / que não é meu de batismo / ou de cartório, / um nome... estranho”.

a) O trecho apresenta um período composto. Justifique por que essa afirmativa é verdadeira.

b) Identifique as orações do período.

c) As orações que fazem parte do período são independentes ou dependentes uma da outra para que façam sentido? Por quê? Qual relação de sentido é feita entre as orações?

d) Que palavra é responsável por estabelecer essa relação de sentido?

Os períodos podem ser simples, em que há uma única oração, ou compostos, constituídos por mais de uma oração. Quando a oração depende sintaticamente de outra oração principal para compor o sentido é chamada de oração subordinada.

Um período composto por subordinação é, portanto, constituído por orações subordinadas, que são relacionadas entre si por uma conjunção subordinativa (por exemplo, que).

Gabarito

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