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Coisas do reino da minha cidade
Olho e vejo por cima dos telhados patinados pelo tempo
copadas mangueiras de quintais vizinhos.
Altaneiras, enfolhadas, encharcados seus caules,
troncos e raízes das longas chuvas do verão passado.
Paramentadas em verde, celebram a liturgia da próxima florada.
Antecipam a primavera no revestimento de brotação bronzeada,
onde esboçavam borboletas amarelas.
As mangueiras estão convidando todos os turistas,
para a festa das suas frutas maduras, nos reinos da minha cidade.
Minha mesa pobre está florida e perfumada.
De entrada à minha casa, um aroma suave
incensando a sala.
Um bule de asa quebrada, um vidro de boca larga,
um vaso esguio servem ao conjunto floral.
Rosas brancas a lembrar grinalda das meninas
de branco que acompanhavam antigas procissões,
de onde vieram carregando seus perfumes?...
Tão fácil. Por cima do muro da vizinha
a roseira, trepadeira, se debruça
numa oferta floral de boa vizinhança [...]
O vizinho é a luz da rua. Quando o vizinho viaja e fecha a casa,
é como se apagasse a luz da rua... Indagamos sempre: quando volta?
E quando o vizinho volta, abre portas
e janelas,
é como se acendessem todas as luzes
da rua
e nós todos nos sentimos em
segurança.
Estas coisas nos reinos de Goiás.
CORALINA, Cora. Coisas do reino da minha cidade. In: CORALINA, Cora. Melhores poemas. Seleção de Darcy França Denófrio. 3. ed. São Paulo: Global, 2011. p. 90-91.
Glossário
altaneiro: muito elevado, alto.
copado: que apresenta copa abundante, densa.
liturgia: ritual
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