Analise o poema do cearense Antônio Gonçalves da Silva (1909- 2002), mais conhecido como Patativa do Assaré, em virtude da musicalidade de sua poesia. Seus versos retratam bem a realidade do sertão nordestino.
Leia um de seus textos mais conhecidos e observe a variedade linguística empregada nele.
O poeta da roça
Sou fio das mata, cantô da mão grossa,
Trabáio na roça, de inverno e de estio.
A minha chupana é tapada de barro,
Só fumo cigarro de páia de mío.
Sou poeta das brenha, não faço o papé
De argum menestré, ou errante cantô
Que veve vagando, com sua viola,
Cantando, pachola. à percura de amô.
Não tenho sabença, pois nunca estudei,
Apenas eu sei o meu nome assiná.
Meu pai, coitadinho! vivia sem cobre,
E o fio do pobre não pode estudá.
Meu verso rastêro, singelo e sem graça,
Não entra na praça, no rico salão,
Meu verso só entra no campo e na roça
Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
Só canto o buliço da vida apertada,
Da lida pesada, das roça e dos eito.
E às vez, recordando a feliz mocidade,
Canto uma sodade que mora em meu peito.
Eu canto o cabôco com suas caçada,
Nas noite assombrada que tudo apavora,
Por dentro da mata, com tanta corage
Topando as visage chamada caipora.
Eu canto o vaquêro vestido de côro,
Brigando com o tôro no mato fechado,
Que pega na ponta do brabo novio,
Ganhando lugio do dono do gado.
Eu canto o mendigo de sujo farrapo,
Coberto de trapo e mochila na mão,
Que chora pedindo o socorro dos horne,
E tomba de fome, sem casa e sem pão.
E assim, sem cobiça dos cofre luzente,
Eu vivo contente e feliz com a sorte,
Morando no campo, sem vê a cidade,
Cantando as verdade das coisa do Norte.
ASSARÉ, Patativa do. Disponível em: <http://www.blocosonline.com.br/literaturalpoesialp01/p010392.htm>.
Acesso em: 15 jul. 2013.
1) Nesse poema, há o emprego de uma variante linguística própria de certas regiões nordestinas. Explique como o eu lírico, a voz que "fala" no poema, se apresenta para o leitor.
2) Por que o eu lírico não quer que o chamem de "menestrel"?
3) Ao falar da produção dos versos, o eu lírico se mostra conhecedor de seus limites.
> Por que ele caracteriza seu verso como "rastêro, singelo e sem graça"?
4) A partir da quinta estrofe, o eu lírico revela fatos que o inspiram na composição de seus versos. Que fatos são esses?
5) Na penúltima estrofe, a quem o eu lírico se refere quando diz que o mendigo "chora pedindo o socorro dos home"?
6) Explique o significado deste verso: "E assim, sem cobiça dos cofre luzente".
7) No poema em questão, a concordância de plural não ocorre em várias construções. Identifique no texto algumas delas.
GABARITO
1) Como uma pessoa humilde, que mora num casebre, longe da cidade, e enfrenta trabalho pesado no campo, sem descanso.
2) Segundo ele, o menestrel canta, toca viola, viaja por vários locais, levando sua música, e deseja encontrar a pessoa amada. O eu lirico, por sua vez, se sente apenas um cantor do mato.
3) Porque o poema apresenta versos simples, que seguem a mesma métrica e fazem pouco uso de figuras de linguagem. Não há um vocabulário rebuscado, o que facilita a compreensão geral do texto.
4) O eu lírico relata o trabalho difícil no campo, as lembranças do passado, a valentia do caboclo, a lida diária do vaqueiro e a pobreza do mendigo. Como diz no último verso, ele canta "as verdade[s] das coisa[s] do Norte".
5) Ele se refere aos governos e às autoridades responsáveis pelas condições básicas de sobrevivência dos cidadãos.
6) Ele confessa que não tem ambição de ganhar muito dinheiro e enriquecer, pois vive satisfeito como cantor nordestino, revelando a realidade de seu povo.
7) "Sou poeta das brenha", "Nas pobre paioça", "Nas noite assombrada", etc.