As questões do Enem não exigem um conhecimento amplo das obras literárias, isto é, de detalhes do enredo, das personagens, etc., mas exigem que o estudante seja um bom leitor, capaz de ler e comparar textos de diferentes épocas e relacioná-las com seu contexto de produção. Veja como isso acontece nestas questões do Enem e tente resolvê-las:
Textos para as questões 1 e 2:
O CANTO DO GUERREIRO
Aqui na floresta
Dos ventos batida,
Façanhas de bravos
Não geram escravos,
Que estimem a vida
Sem guerra e lidar.
— Ouvi-me, Guerreiros,
— Ouvi meu cantar.
Valente na guerra
Quem há, como eu sou?
Quem vibra o tacape
Com mais valentia?
Quem golpes daria
Fatais, como eu dou?
— Guerreiros, ouvi-me;
— Quem há, como eu sou?
Gonçalves Dias
MACUNAÍMA
(Epílogo)
Acabou-se a história e morreu a vitória.
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolomângolo na tribo Tapanhumas e os filhos dela se acabaram de um em um. Não havia mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles campos, furos puxadouros arrastadouros meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, tudo era solidão do deserto... Um silêncio imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Nenhum conhecido sobre a terra não sabia nem falar da tribo nem contar aqueles casos tão pançudos. Quem podia saber do Herói?
Mário de Andrade
1. A leitura comparativa dos dois textos indica que
a) ambos têm como tema a figura do indígena brasileiro apresentada de forma realista e heroica, como símbolo máximo do nacionalismo romântico.
b) a abordagem da temática adotada no texto escrito em versos é discriminatória em relação aos povos indígenas do Brasil.
c) as perguntas " - Quem há, como eu sou?" (primeiro texto) e "Quem podia saber do Herói?" (segundo texto) expressam diferentes visões da realidade indígena brasileira.
d) o texto romântico, assim como o modernista, aborda o extermínio dos povos indígenas como resultado do processo de colonização no Brasil.
e) os versos em primeira pessoa revelam que os indígenas podiam expressar-se poeticamente, mas foram silenciados pela colonização. como demonstra a presença do narrador, no segundo texto.
2. Considerando-se a linguagem desses dois textos, verifica-se que
a) a função da linguagem centrada no receptor está ausente tanto no primeiro quanto no segundo texto.
b) a linguagem utilizada no primeiro texto é coloquial, enquanto, no segundo, predomina a linguagem formal.
c) há, em cada um dos textos, a utilização de pelo menos uma palavra de origem indígena.
d) a função da linguagem, no primeiro texto, centra-se na forma de organização da linguagem e, no segundo, no relato de informações reais.
e) a função da linguagem centrada na primeira pessoa, predominante no segundo texto, está ausente no primeiro.
COMENTÁRIO
Os dois textos apresentados pela questão são indianistas e manifestam diferentes visões acerca do índio. O texto de Gonçalves Dias, produzido dentro de uma perspectiva romântica, apresenta uma visão idealizada e heroica do índio, tentando transformá-lo em herói nacional. Com a pergunta - Quem há, como eu sou?", o índio expressa sua altivez e seu orgulho, como o único ser da floresta que está acima de todas as forças.
Já o texto de Mário de Andrade, produzido dentro de uma perspectiva modernista, retrata a decadência de Macunaíma e sua família. O trecho pertence ao final da obra Macunaíma, depois que os irmãos tinham morrido e o protagonista tinha virado a Ursa Maior. Assim, a conclusão da obra, com a ausência do herói e o fim de sua família, remete ao problema vivido pelos índios brasileiros tanto no século XX quanto hoje: o desaparecimento de tribos indígenas da Amazônia. Logo, a alternativa c da questão 1 é a mais adequada.
Na questão 2, os itens que envolvem as funções da linguagem são falsos. A alternativa c é verdadeira, já que as palavras tacape, Uraricoera, Tapanhumas e Macunaíma são indígenas.
GABARITO
1C - 2C