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**Gabarito no final**
Augusto dos Anjos escreveu três sonetos em memória do pai. Leia dois deles, transcritos a seguir, para responder às questões.
**Gabarito no final**
Augusto dos Anjos escreveu três sonetos em memória do pai. Leia dois deles, transcritos a seguir, para responder às questões.
II
A meu Pai morto
Madrugada de Treze de Janeiro,
Rezo, sonhando, o ofício da agonia.
Meu Pai nessa hora junto a mim morria
Sem um gemido, assim como um cordeiro!
E eu nem lhe ouvi o alento derradeiro!
Quando acordei, cuidei que ele dormia,
E disse à minha Mãe que me dizia:
"Acorda-o"! deixa-o, Mãe, dormir primeiro!
E saí para ver a Natureza!
Em tudo o mesmo abismo de beleza,
Nem uma névoa no estrelado véu...
Mas pareceu-me, entre as estrelas flóreas,
Como Elias, num carro azul de glórias,
Ver a alma de meu Pai subindo ao Céu!
III
Podre meu Pai! A Morte o olhar lhe vidra.
Em seus lábios que os meus lábios osculam
Microrganismos fúnebres pululam
Numa fermentação gorda de cidra.
Duras leis as que os homens e a hórrida hidra
A uma só lei biológica vinculam,
E a marcha das moléculas regulam,
Com a invariabilidade da clepsidra!...
Podre meu Pai! E a mão que enchi de beijos
Roída toda de bichos, como os queijos
Sobre a mesa de orgíacos festins!...
Amo meu Pai na atômica desordem
Entre as bocas necrófagas que o mordem
E a terra infecta que lhe cobre os rins!
VOCABULÁRIO DE APOIO
alento: respiração
cidra: tipo de laranja
clepsidra: relógio de água
cuidar: pensar, cogitar
Elias: um dos profetas do Antigo Testamento; segundo o texto bíblico, subiu ao céu num carro de fogo, em vez de morrer
festim: pequena festa
flóreo: viçoso, belo
hidra: animal invertebrado de menos de 1 cm, que vive na água doce fixado em folhas e gravetos
hórrido: horrendo
infecto: repugnante, pestilento
necrófago: aquele que se alimenta da carne de animais mortos
orgíaco: com características de orgia (excesso de bebida, euforia, desregramento e libertinagem)
oscular: beijar
pulular: brotar, surgir em abundância
vidrar: fazer perder o brilho, embaçar
QUESTÕES DE INTERPRETAÇÃO
1. No primeiro soneto, o falecimento do pai põe em evidência a insignificância do ser humano na ordem do mundo.
a) De que modo os versos dos dois quartetos evidenciam essa insignificância?
b) Como o primeiro terceto confirma a pequenez humana perante a natureza? Explique.
2. O segundo soneto apresenta outra visão da morte.
a) Que recurso o poeta emprega para afirmar a inevitabilidade da morte?
b) Que sentidos podem ser atribuídos ao adjetivo duras, no início do segundo quarteto?
c) Explique como o segundo soneto se contrapõe à visão da morte presente no primeiro.
3. O segundo soneto exemplifica as principais características do estilo de Augusto dos Anjos.
a) O poeta costuma associar um tema sério a referências vulgares, cotidianas. Como se constrói essa mistura de estilos nesse soneto?
b) A frase "Podre meu Pai!", que abre o soneto, propõe um jogo de linguagem. Qual?
c) Augusto dos Anjos faz um cruzamento entre as linguagens da literatura e das ciências naturais. Que termos comprovam a penetração da linguagem científica no poema?
d) Que reação, nesse caso específico, a mistura de estilos provoca no leitor? É possível imaginar que a leitura feita pelo leitor da época de Augusto dos Anjos seja diferente daquela feita por um leitor atual? Justifique.
Os autores pré-modernistas empenharam-se na compreensão da realidade nacional e deram voz a grupos sociais que não contavam com a assistência do Estado. Muitos artistas têm mostrado preocupação semelhante. É o caso do artista plástico contemporâneo Vik Muniz, que alertou para a situação das crianças moradoras de rua nas obras da série Ulterior. O tom cinza do menino, contrastante com a colorida moldura de lixo, sugere a invisibilidade desse grupo social.
* Imagine-se como artista contemporâneo. Que grupo marginalizado você destacaria? Por quê?
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