Leia o trecho a seguir do conto “O enfermeiro”, de Machado de Assis, e responda às questões.
O conto narra história de Procópio, um enfermeiro convidado por um padre para cuidar do Coronel Felisberto, que sofre de aneurisma – um inchaço em uma artéria do cérebro. A convivência dos dois, no entanto, não é das melhores. Procópio sofre com ofensas, humilhações e agressões de seu patrão. Certo dia, durante um desses acessos de raiva, o enfermeiro acaba por esganar o coronel. Os dois parágrafos transcritos a seguir mostram as reações de Procópio ao perceber o que fez.
[...]
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado, e dei um grito; mas ninguém me ouviu. Voltei à cama, agitei-o para chamá-lo à vida, era tarde; arrebentara o aneurisma, e o coronel morreu. Passei à sala contígua, e durante duas horas não ousei voltar ao quarto. Não posso mesmo dizer tudo o que passei, durante esse tempo. Era um atordoamento, um delírio vago e estúpido. Parecia-me que as paredes tinham vultos; escutava umas vozes surdas. Os gritos da vítima, antes da luta e durante a luta, continuavam a repercutir dentro de mim, e o ar, para onde quer que me voltasse, aparecia recortado de convulsões. Não creia que esteja fazendo imagens nem estilo; digo-lhe que eu ouvia distintamente umas vozes que me bradavam: assassino! assassino!
Tudo o mais estava calado. O mesmo som do relógio, lento, igual e seco, sublinhava o silêncio e a solidão. Colava a orelha à porta do quarto na esperança de ouvir um gemido, uma palavra, uma injúria, qualquer coisa que significasse a vida, e me restituísse a paz à consciência. Estaria pronto a apanhar das mãos do coronel, dez, vinte, cem vezes. Mas nada, nada; tudo calado. Voltava a andar à toa na sala, sentava-me, punha as mãos na cabeça; arrependia-me de ter vindo. “Maldita a hora em que aceitei semelhante coisa!” exclamava. E descompunha o padre de Niterói, o médico, o vigário, os que me arranjaram um lugar, e os que me pediram para ficar mais algum tempo. Agarrava-me à cumplicidade dos outros homens.
[...]
MACHADO DE ASSIS. O enfermeiro.
Questão 1 – EF89LP37
Leia as definições de duas figuras de linguagem e encontre no trecho um exemplo de cada uma. Em seguida, explique o efeito de sentido que elas provocam no texto.
Antítese: junção de duas ideias opostas.
Eufemismo: emprego de uma expressão para amenizar o impacto de outra.
Questão 2– EF69LP47
Observe a construção do tempo nesse trecho do conto. Como ele pode ser classificado? Qual o efeito de sentido que isso provoca na narrativa? Justifique sua resposta.
Questão 3 – EF09LP08 e EF09LP11
Releia este período extraído do conto de Machado de Assis:
Quando percebi que o doente expirava, recuei aterrado [...].
a) Esse período é composto por coordenação ou por subordinação? Justifique sua resposta.
b) Que efeito de sentido o emprego desse tipo de período provoca no trecho lido?
Questão 4 – EF09LP04
Agora, crie um parágrafo que dê continuidade ao trecho lido. Lembre-se de utilizar períodos compostos e adequar o texto à norma-padrão.