Conto 6ºano com gabarito - Seca no sertão nordestino - Habilidades EF69LP44, EF69LP47, EF69LP49, EF67LP27, EF67LP28 (PDF)


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O texto que você vai ler pertence à tradição dos contos populares protagonizados por animais. Nesse tipo de conto, animais assumem características humanas, como a esperteza ou a ingenuidade. No conto a seguir, escrito com base no reconto oral de Manoel R. da Silva, coletado por Marco Haurélio, um coelho faz de tudo para enganar uma onça.

Apostila de atividades 6ºano

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O coelho medonho (O amigo Folhaço)
Certa feita houve uma festa e o coelho, contando vantagem para os outros bichos, disse que ia montado na onça. Como era de se esperar, ninguém acreditou.
Chegado o dia da festa, a onça passou na casa do coelho para chamá-lo:
– Vamos comigo pra festa, amigo coelho.
– Não posso, amiga onça, pois quebrei a perna e não consigo andar.
A onça, que tinha segundas intenções, não desistiu do convite:
– Sendo assim, eu te levo. Montana minha cacunda.
O coelho recusou, dizendo que cairia, sem ter em que segurar.
Mas a onça tanto insistiu que ele montou e se esparrachou no chão. Então, convenceu a onça a deixá-lo pôr uma sela, o que conseguiu com muito esforço.
Posta a sela, o coelho montou na onça e tornou a cair. Aí, disse que tinha de colocar uma bride, mas a onça enfunou, sem querer consentir.
O coelho disse que machucara a outra perna, pois mesmo com sela não tinha em que segurar. Resultado: pôs a bride, montou e tornou a cair.
– Amiga onça, agora faltam as esporas, pois não tenho onde firmar as pernas.
Mais que das outras vezes, a onça deu a testa. Porém, como estava morta de vontade de comer o coelho, acabou aceitando, desde que ele descesse antes de chegarem ao local da festa.
O coelho calçou as esporas e desta vez se firmou, indo em trote lento na direção da festa.
Quando estavam chegando, a onça pediu que ele descesse, mas o danado, fazendo-se de besta, encalcou a espora no bucho da malvada. Na entrada, ele amarrou a onça no mourão pra ela não fugir. Os bichos, nem é preciso dizer, ficaram todos espantados. Terminada a festa, nenhum bicho quis segurar a onça para que o coelho a montasse. Mesmo assim, ele pulou na cacunda dela, puxou a rédea e encalcou de novo a espora. Perto de casa, o coelho se pendurou num galho e a onça seguiu rumo à toca, toda agitada. Já chegou gritando:
– Ô, meus filhos, agarrem esse coelho malandro!
Mas os filhotes da onça responderam que não havia nenhum coelho. Foi quando ela se deu conta de que ele estava já muito longe.
Passou o tempo, e o coelho, com medo da onça, mudou de casa e passou a morar num buraco. Um dia, os filhotes da onça foram procurá-lo para avisar que a mãe havia morrido. O coelho, para se certificar, foi até a toca da bicha e lá a encontrou estirada, parecendo morta mesmo. Perguntou aos filhotes:
– Ela já soltou vento?
– Não!...
– Então ainda está viva, pois, quando morre, a onça solta vento.
Imediatamente a onça soltou um vento e o coelho, percebendo a cilada, esticou na carreira, sumindo no mato. Tempos depois, aproveitando-se de um estio violento, a onça foi fazer vigia na única fonte que não havia secado. Desta vez, o coelho se viu apertado. Por sorte, perto de onde ele morava ia passando um tropeiro com umas cargas nuns burros. Amarrada na carga ia uma cabaça de mel. O coelho atocaiou, arrebatou a cabaça, caindo com ela no chão, quebrando-a e se lambuzando todo. Depois rolou sobre as folhas e, coberto com elas, ficou irreconhecível. Chegando à fonte, a onça deixou-o beber, sem problemas. Depois perguntou:
– Ô, amigo Folhaço, você não viu o amigo coelho?
– Não, não vi – respondeu. Depois, entrou na água e as folhas desgrudaram do seu corpo.
A onça, vendo-se enganada mais uma vez, ainda tentou agarrá-lo, mas o coelho correu tanto, mas tanto, que ela nunca mais ouviu falar dele.

HAURÉLIO, Marco. Contos folclóricos brasileiros.
São Paulo: Paulus, 2010. p. 15-17.

bride: rédea.
enfunar: irritar-se.
estio: falta de água, seca.
mourão: poste no qual se amarram animais.

COMPREENSÃO DO TEXTO

1. Os acontecimentos narrados no conto seguem uma ordem linear, isto é, cronológica? Justifique.

2. O coelho e a onça são os personagens principais do conto. Mas há também personagens secundários.
a) Quais são eles?
b) Por que podem ser considerados secundários?

3. No início do conto, o coelho consegue chegar a uma festa montado na onça.
a) Descreva brevemente como ele conseguiu isso.
b) Por que o coelho enganou a onça, nessa ocasião?
c) Por que a onça deixou que o coelho montasse nela no início do caminho?
d) É possível dizer que a onça e o coelho estavam mal-intencionados? Por quê?

4. Em um segundo momento, a onça finge para o coelho estar morta.
a) Qual era a intenção dela ao fazer isso?
b) Nessa ocasião, o que o coelho consegue ao ser mais esperto que a onça?

5. Por fim, o coelho engana novamente a onça, mas dessa vez por meio de um disfarce.
a) Qual era esse disfarce? De que maneira o título do conto faz referência a esse disfarce?
b) Por que o coelho chega perto da onça mesmo correndo o risco de ser pego?

6. O texto apresenta algumas palavras e expressões que não pertencem a variedades socialmente valorizadas, como a palavra cacunda.
a) Ela é semelhante sonora e graficamente a que outra palavra?
b) Há semelhança de sentidos entre cacunda e a palavra indicada na resposta anterior?
c) Qual dessas palavras é mais restrita a um grupo de falantes?

7. Releia o trecho:
– Amiga onça, agora faltam as esporas, pois não tenho onde firmar as pernas.
Mais que das outras vezes, a onça deu a testa. Porém, como estava morta de vontade de comer o coelho, acabou aceitando, desde que ele descesse antes de chegarem ao local da festa.

HAURÉLIO, Marco. Contos folclóricos brasileiros.
São Paulo: Paulus, 2010. p. 15-16.

a) Considerando o contexto em que aparece, a expressão “dar a testa” tem sentido oposto a que ação expressa na frase seguinte?
b) Reescreva a frase “Mais que das outras vezes, a onça deu a testa” substituindo a expressão destacada por outra de sentido semelhante.

8. Releia o trecho:
Quando estavam chegando, a onça pediu que ele descesse, mas o danado, fazendo-se de besta, encalcou a espora no bucho da malvada.

HAURÉLIO, Marco. Contos folclóricos brasileiros.
São Paulo: Paulus, 2010. p. 16.

Qual é o sentido das palavras encalcou e bucho? Justifique.

9. Releia o trecho:
O coelho recusou, dizendo que cairia, sem ter em que segurar. Mas a onça tanto insistiu que ele montou e se esparrachou no chão.

HAURÉLIO, Marco. Contos folclóricos brasileiros.
São Paulo: Paulus, 2010. p. 15.

Segundo Marco Haurélio, autor de Contos folclóricos brasileiros, o verbo esparrachar é uma versão da fala popular nordestina para o verbo esparralhar, que significa “cair deitado”.

a) Parte da palavra original foi eliminada e substituída por outro verbo. Qual?
b) O sentido desse verbo incorporado é condizente com a ação de cair? Justifique.

10. Uma onça é bem maior e mais forte que um coelho. No conto, porém, o coelho consegue levar vantagem sobre ela.
a) Por quê?
b) Considerando que, nesse tipo de conto, os animais assumem características humanas, o sucesso do coelho sobre a onça representa a vitória e a derrota de que tipos de pessoa?

11. Considerando o que você já aprendeu sobre conto popular e sobre variação linguística, o que você acha que aconteceria se essa história fosse contada na mesma linguagem dos jornais mais importantes de cidades como São Paulo e Rio de Janeiro? Justifique.

12. Leia abaixo o trecho de uma notícia de 2016 sobre a seca no sertão nordestino.

Seca de 5 anos esvazia reservatórios e põe Nordeste em emergência

Com uma inflamação nos joelhos, a lavradora Maria Nascimento da Silva, 72, não consegue mais carregar latas e galões de água na cabeça, como fez por toda a vida.
Depois de ver os filhos se mudarem para cidades como Salvador e Candeias, na região metropolitana da capital baiana, hoje mora só com uma neta de nove anos na zona rural de Santa Bárbara, porta de entrada do sertão da Bahia.
Numa sexta-feira de clima abafado, ela foi uma das moradoras que seguiam em romaria à prefeitura para fazer o mesmo pedido: que o carro-pipa do Exército, recém-chegado, visitasse a sua casa e abastecesse a cisterna.
Assim como Santa Bárbara, uma em cada duas cidades do Nordeste está em estado de emergência por causa da seca, que chega ao seu quinto ano consecutivo na região.
[...]

PITOMBO, João Pedro. Seca de 5 anos esvazia reservatórios e põe Nordeste em emergência. Folha de
S.Paulo, São Paulo, 7 nov. 2016. Cotidiano, p. B7.

a) A seca também é abordada no conto. Transcreva o trecho em que ela aparece.
b) No conto, a seca é apenas uma parte do cenário onde se passa a história? Justifique.
c) E qual é o papel da seca na realidade descrita na notícia?
d) Com base na resposta para os dois itens anteriores, compare os papéis da seca no conto e no contexto social descrito pela notícia.

Gabarito

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