Anacoluto é uma figura de linguagem que consiste no aparecimento de um termo geralmente no início de um período que não terá ligação sintática com o restante dos termos posteriores.
Exemplos:
Eles, o seu único desejo é exterminar-nos (Garret).
O Presidente, estes cidadãos não quiseram ouvir-nos.
Eu, toda vez que chego, você me chama pra conversar.
Essa figura de linguagem, também chamada de “frase quebrada”, é muito mais frequente na linguagem falada que na escrita. Tem-se um anacoluto toda vez que a estrutura sintática de uma oração é interrompida e um termo ou expressão que parecia ser essencial à sentença acaba ficando solto. Em seu lugar, é colocada outra palavra, oração ou período. O anacoluto torna-se muito mais compreensível quando observamos exemplos dele.
A princípio, o pronome “eu” parece ser o sujeito da oração, mas em seguida é introduzido um novo período: “toda vez que chego, você me chama pra conversar”. Embora pareça que esse período tem o “eu” como sujeito, na verdade o sujeito está oculto. Se o sujeito fosse claro, teríamos “toda vez que eu chego, você me chama pra conversar”. Assim, constatamos que o “eu” presente no início do exemplo não possui função sintática alguma.
Observe os exemplos:
Esse chapéu que está na moda, você que gosta de chapéu devia comprar um.
Note que a oração “você que gosta de chapéu devia comprar um” tem sentido completo. Enquanto isso, a oração “esse chapéu que está na moda” fica esperando um complemento que não chega, fica sintaticamente solta.
Minha amiga, ela não seguiu meus conselhos, arrependeu-se depois.
Aquela avaliação, as questões da avaliação foram muito complicadas.
Você acredita que Maria, ela abandonou o curso?
Acompanhe esta análise:
Eu sentia-me infeliz. Era insuportável a sensação, sentia-me enganada. A cada dia aumentavam as dificuldades financeiras também, tudo ficava difícil naquela casa.
Observação: perceba como o enunciado vai mudando de sujeito, o pronome “eu” que anunciava o discurso, muda para a posição de objeto (me) e em seguida se perde, deixa de ser o sujeito do texto . Na segunda oração o complemento do termo “sensação” fica vazio e complementa-se na oração posterior pela expressão “sentia-me enganada”, quando deveria ter sido concluída com “a sensação de ser enganada”
MAIS EXEMPLOS
Anacoluto na Linguagem Oral
- Eu, acho que estou passando mal.
- Nora, lembro dela sempre que chego aqui.
- A vida, não sei como será sem ele.
- Crianças, como são difíceis de lidar.
- Lúcia, ouvi dizer que está viajando.
- Portugal, quantas lembranças tenho.
Anacoluto na Literatura
- “Eu, que era branca e linda, eis-me medonha e escura.” (Manuel Bandeira)
- “Eu, porque sou mole, você fica abusando.” (Rubem Braga)
- “O relógio da parede eu estou acostumado com ele, mas você precisa mais de relógio do que eu”. (Rubem Braga)
- “Umas carabinas que guardavam atrás do guarda-roupa, a gente brincava com elas, de tão imprestáveis.” (José Lins do Rego)
- “A velha hipocrisia, recordo-me dela com vergonha.” (Camilo Castelo Branco)
- “E o desgraçado tremiam-lhe as pernas, sufocando-o a tosse.” (Almeida Garret)