Crônicas e cotidiano
Duração: 3 aulas
Relevância para a aprendizagem
Nesta sequência didática, será abordado o gênero crônica, observando as características e a estrutura por meio da leitura de “O protetor da natureza”, do jornalista Rubem Braga (1913-1990). Ao final, haverá planejamento, escrita, revisão e reescrita de crônicas, que vão compor o livro de crônicas da sala.
Objetivos de aprendizagem
Conhecer as características e a estrutura do gênero crônica.
Planejar e produzir crônicas, narrando fatos cotidianos.
Produzir um livro de crônicas da turma.
Objetos de conhecimento e habilidades (BNCC)
Construção da textualidade
(EF67LP30) Criar narrativas ficcionais, tais como contos populares, contos de suspense, mistério, terror, humor, narrativas de enigma, crônicas, histórias em quadrinhos, dentre outros, que utilizem cenários e personagens realistas ou de fantasia, observando os elementos da estrutura narrativa próprios ao gênero pretendido, tais como enredo, personagens, tempo, espaço e narrador, utilizando tempos verbais adequados à narração de fatos passados, empregando conhecimentos sobre diferentes modos de se iniciar uma história e de inserir os discursos direto e indireto.
DesenvolvimentoAula 1 – Reconhecer as características da crônica
Duração: cerca de 45 minutos
Local: em sala de aula
Organização dos alunos: sentados em suas carteiras, organizadas em um círculo
Recursos e/ou material necessário: lousa, giz, lápis, borracha, caderno, dicionários de Língua Portuguesa, cópias do texto sugerido
Sugestão de crônica:
BRAGA, Rubem. O protetor da natureza. In: Melhores crônicas de Rubem Braga. São Paulo: Global, 2013.
Atividade 1: Introdução (15 minutos)
Inicie a aula com perguntas aos alunos para verificar os conhecimentos prévios acerca do gênero a ser trabalhado: Alguém já leu uma crônica? Qual o nome dela? Onde foi publicada? De que assunto tratava?
Observe se estabelecem a ligação das crônicas com fatos do cotidiano. Explique que as crônicas são direcionadas ao leitor comum, não especialista, interessado em assuntos do cotidiano.
Com a turma, registre na lousa tópicos que indiquem as principais características do gênero: descrição de um evento cotidiano, seja uma notícia ou um fato do dia a dia; finalidade de entreter o leitor e/ou fazê-lo refletir sobre algo (por exemplo, um problema social), e, por meio do humor, fazer críticas; mistura de trechos narrativos, expositivos (informações para explicar algo), descritivos e opinativos; ponto de vista na 1ª pessoa, para criar proximidade com o leitor, ou na 3ª pessoa, para demonstrar maior impessoalidade; linguagem mais formal ou mais informal, dependendo da intencionalidade do autor e do público a que se destina; a crônica narrativa é dividida em situação inicial, complicação, desenvolvimento, clímax e desfecho; história concisa; pode ter narrador, personagens, tempo e espaço.
Atividade 2: Leitura e análise da crônica (35 minutos)
Distribua aos alunos cópias da crônica “O protetor da natureza”, escrita por Rubem Braga, um dos maiores cronistas brasileiros, cujos temas principais são: a crítica social e política, o amor, a natureza.
Contextualize a crônica, falando um pouco sobre o autor, e depois pergunte: Considerando o título, qual temática vocês acreditam que será trabalhada? Muito provavelmente, dirão natureza. Pergunte se, além desse assunto, o que mais poderia ser dito no texto em relação à natureza. Ouça as respostas e verifique se associam a palavra protetor a uma possível referência à destruição da natureza.
Peça aos alunos que leiam o primeiro parágrafo da crônica. Questione: Que evento cotidiano serviu de ponto de partida para a crônica? Leve-os a perceber que ver uma esquadrilha de aviões seguidos de aviões comuns não é um fato muito comum, por isso desencadeou a curiosidade do personagem. Chame a atenção para a comparação entre a esquadrilha rápida (passou zunindo e deixando apenas pontos negros) e os aviões comuns, morosos. O início da crônica já estabelece relação antagônica entre rápido e demorado, o que será retomado em outros momentos durante o texto.
Oriente os alunos a observar também como os verbos aparecem no texto. Eles vão notar que estão no passado, denotando um evento que já ocorreu.
Leia com eles o segundo parágrafo, que apresenta o personagem da crônica: “parado e triste”. Peça que descrevam o comportamento desse homem – como anda lentamente pelo quarto, deixando para fazer a barba mais tarde e olhando a paisagem. Chame a atenção para a retomada do demorado/sem pressa (homem) com o rápido/apressado (pardal).
Proponha questões que levem a inferir quem é o narrador da história: O narrador é alguém que apenas observa o personagem? Ou ele conhece o que se passa em seu interior? A resposta deve ser que o narrador é onisciente.
Solicite que grifem as palavras desconhecidas, as quais devem tentar entender pelo contexto, depois procurar o significado no dicionário e ver se se confirmam as hipóteses levantadas.
Chame a atenção para a extensão da crônica e sua temática, extraída a partir de uma esquadrilha de aviões zunindo do lado de fora de uma janela, seguida de aviões comuns, que chama a atenção do personagem para um cargo de proteção da natureza e, dali, para o que é feito com as borboletas. Peça aos alunos que prestem atenção a esse fluxo de ideias e reflitam se isso também acontece com eles, de vez em quando: um pensamento puxa outro, que puxa outro e, quando se nota, o que desencadeou o primeiro pensamento já foi esquecido.
Chame a atenção para as perguntas que há na crônica, interrogando-os: “Quem faz essas perguntas?” “São perguntas para serem respondidas?” Eles devem notar que, na maior parte das vezes, são perguntas retóricas feitas pelo personagem, ou seja, perguntas que motivam a reflexão, sem a pretensão de uma resposta.
Na construção do texto, nota-se que apenas os três primeiros parágrafos trazem a narrativa em 3ª pessoa. Na sequência, o personagem ganha voz, o que passa a ser expresso por meio do discurso direto, indicado pelo uso da primeira pessoa, de aspas e de verbos de dizer. Por meio desse recurso, o personagem passa a falar diretamente com o leitor sobre a destruição da natureza (mais precisamente, da caça a borboletas). Essa aproximação com o leitor é uma característica das crônicas.
Veja se os alunos percebem como o leitor é tratado no texto (“meus amigos”) pelo narrador. Esse recurso visa uma maior aproximação com o leitor, como se ele fosse uma pessoa próxima. Seria uma estratégia para o leitor aderir à causa que ele defende.
Nessas falas do personagem, notam-se, ainda, alguns registros mais coloquiais da linguagem, com marcas da oralidade, como: “Isto é... bem”; “Mas eu ia dizendo...”; “não acham?”. Explique aos alunos que, nas crônicas, é comum o uso da linguagem informal (o que se justifica considerando sua temática, os meios em que circula e o público que visa atingir).
Pergunte aos alunos como é construída a imagem de quem usa as borboletas como enfeite. Há uma mistura de ironia, construída também com humor em alguns trechos: vivem honradamente, mas, ao mesmo tempo, caçam e matam borboletas por motivo fútil.
É interessante chamar a atenção também para a forma como, já quase no final do texto, o personagem desqualifica quem mata as borboletas: pessoas muito cruéis, gananciosas e insensíveis. Chega a falar em cortejo fúnebre acompanhado por borboletas, de tão absurda que considera a caça a elas.
No final da crônica, há uma suavização do discurso, com pedidos de desculpas e a justificativa de que o personagem não quer aborrecer ninguém – ao contrário, quer propor a defesa do ser humano também, por também ser parte da natureza.
Finalizada a análise, proponha aos alunos que releiam a crônica em casa, considerando as características do gênero estudadas no início da aula, para perceber a organização composicional presente no texto.
Aula 2 – Escrever a crônica
Duração: cerca de 45 minutos
Local: em sala de aula
Organização dos alunos: sentados em duplas
Recursos e/ou material necessário: caderno, lápis, borracha, caneta, folha avulsa, computador com impressora
Atividade 1: Planejar e escrever a crônica (30 minutos)
Primeiramente, explique que os alunos vão escrever uma crônica para compor um livro. Depois retome as características da crônica relacionadas anteriormente, a estrutura e os recursos expressivos com base na análise feita e na tarefa para casa. Anote na lousa para que eles possam utilizar essa síntese no planejamento.
Decidido o fato a ser narrado, devem anotar as informações mais relevantes para compor a história. Para servir de roteiro, podem considerar as características elencadas no início da aula. É importante lembrar que a história deve ser curta, com um episódio central (não pode haver narrativas secundárias). A história deve ter personagem, se situar temporalmente e espacialmente e ter um narrador (narrador-personagem, observador ou onisciente). Oriente-os a fazer um esquema (roteiro) de todas as partes do enredo, para saber como a crônica começa e como termina.
Na escrita, oriente as duplas a definir se o texto será em 1ª ou 3ª pessoa. Proponha que insiram diálogos, já que se trata de uma narrativa, utilizando tanto o discurso direto como o indireto. Assim como na crônica estudada na aula anterior, é importante caracterizar o personagem. Chame a atenção para a adequação da linguagem ao público leitor e peça que já pensem em um título para o livro.
Atividade 2: Revisar e reescrever a crônica (15 minutos)
Peça que troquem as crônicas produzidas para que uma dupla leia o texto da outra, fazendo uma revisão conforme as seguintes perguntas: A crônica é estruturada a partir de um fato cotidiano? As características e a estrutura do gênero foram observadas? A história narrada é curta, ocorrendo em um tempo breve e com poucos personagens (ou um único personagem)? O título está adequado?
Explique que, além dos itens propostos para a revisão, eles também podem dar sugestões ao colega. Combine com a turma como eles farão essas anotações, para que respeitem o texto do outro, por exemplo, escrevendo-as nas margens ou num comentário à parte.
Após a revisão, peça às duplas que devolvam as crônicas para os autores, para que eles leiam as observações e os comentários, os quais podem aceitar ou não, antes da reescrita. Peça que observem os aspectos linguístico-gramaticais, já que será a versão utilizada em um livro. A tarefa de reescrita deverá ser realizada em casa. Os alunos devem digitar o texto e trazê-lo o em um pendrive para, se possível, imprimir na escola. Combine antes a fonte a ser usada, o espaçamento e as margens na folha para que a composição do livro seja esteticamente harmoniosa.
Aula 3 – Organizando um livro de crônicas da sala
Duração: cerca de 45 minutos
Local: em sala de aula
Organização dos alunos: em semicírculo e, depois, em grupos
Recursos e/ou material necessário: crônicas feitas pelos alunos na aula anterior, papel kraft, cartolina, furador, barbante, tesoura, revistas, cola, grampeador, canetas hidrocolor
Atividade 1: Planejar e realizar a confecção do livro de crônicas (45 minutos)
Neste primeiro momento da aula, os alunos vão planejar o livro. Comece perguntando como poderiam fazê-lo e quais elementos devem constar, como título, sumário, entre outros. Anote as contribuições na lousa e monte um roteiro, como o sugerido a seguir: capa e contracapa; sumário (com numeração das páginas); texto de apresentação; ilustrações; ordem das crônicas (alfabética, por tema, etc.); nome dos autores das crônicas.
Definidas as etapas do trabalho, organize o material elencado em Recursos e/ou material necessário para a confecção do livro e a turma em grupos de tarefa para confeccionar a capa; organizar as crônicas; compor o texto introdutório e fazer o sumário; paginar o material; elaborar as ilustrações e imagens internas. Outro grupo deve ficar responsável pela divulgação do “lançamento”. Para isso, precisam pensar no meio em que a divulgação será feita, se será com cartazes, ou no site da escola, se houver, ou blogue da turma, por exemplo. Devem pensar em uma data e local e como será o lançamento: sarau, leitura dramática, seção de autógrafos, entre outros, e quem será o público-alvo: comunidade escolar, familiares e amigos.
Aferição do objetivo de aprendizagem
A avaliação do processo de aprendizagem pode ser realizada por meio das atividades propostas nesta sequência didática e deve considerar o desenvolvimento individual de cada um dos alunos. Em um primeiro momento, espera-se que os alunos sejam capazes de identificar as características e a estrutura da crônica, partindo da leitura e compreensão de uma crônica de Rubem Braga. Em um segundo momento, é esperado que os alunos, em duplas, planejem, esbocem, revisem e escrevam a versão final de uma crônica, observando a estrutura e características principais do gênero.
Os alunos também podem fazer uma autoavaliação, respondendo a questões como: Consegui entender a organização e as características principais de uma crônica? Produzi uma crônica conforme o proposto? Participei das discussões e das atividades em dupla de forma ativa?
Questões para auxiliar na aferição
Além das atividades propostas nesta sequência didática, algumas questões podem ser utilizadas para aferir a aprendizagem dos alunos em relação aos objetivos de aprendizagem aqui explorados. Por exemplo:
Leia o texto a seguir de João do Rio para responder às questões 1 e 2.
Os Tatuadores
— Quer marcar?
Era um petiz de doze anos talvez. A roupa em frangalhos, os pés nus, as mãos pouco limpas e um certo ar de dignidade na pergunta. O interlocutor, um rapazola louro, com uma dourada carne de adolescente, sentado a uma porta, indagou:
— Por quanto?
— É conforme, continuou o petiz. É inicial ou coroa?
— É um coração!
— Com nome dentro?
O rapaz hesitou. Depois:
— Sim, com nome: Maria Josefina.
— Fica tudo por uns seis mil réis.
Houve um momento em que se discutiu o preço, e o petiz estava inflexível, quando vindo do quiosque da esquina um outro se acercou.
— Ó moço, faço eu; não escute embromações!
— Pagará o que quiser, moço.
O rapazola sorria. Afinal resignou-se, arregaçou a manga da camisa de meia, pondo em relevo a musculatura do braço. O petiz tirou do bolso três agulhas amarradas, um pé de cálix com fuligem e começou o trabalho. Era na Rua Clapp, perto do cais, no século XX... A tatuagem! Será então verdade a frase de Gautier: “o mais bruto homem sente que o ornamento traça uma linha indelével de separação entre ele e o animal, e quando não pode enfeitar as próprias roupas recama a pele”?
[...]
RIO, João do. A alma encantadora das ruas.
Disponível em:
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bn000039.pdf>.
Pierre Jules Théophile Gautier, escritor, poeta, jornalista e crítico literário francês do século XIX.
Glossário
Cálix – variação de cálice.
Petiz – criança, pequeno.
Recama – enfeita, adorna.
Réis – moeda antiga.
1. Com base nesse fragmento, pode-se afirmar que esse texto é uma crônica? Dê elementos que justifiquem sua resposta.
2. Qual reflexão sobre o comportamento humano é realizada na crônica?
Gabarito das questões
1. Espera-se que os alunos respondam que se trata de uma crônica por retratar fatos cotidianos, contemporâneos ao cronista.
2. Espera-se que os alunos percebam que o autor faz uma reflexão sobre o gosto que o homem tem de se enfeitar
Comentários
Postar um comentário